segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

.#aranjuezfeelings.

 .aranjuez: meu 'corredor da folia' em 2012.
 .concierto de aranjuez imaginário.
 .palácio real de aranjuez.
 .versailles espanhola.
 .eu e meu pacto com são lázaro, parte II.
 .almoço de domingo: rincón de godoy - plaza parejas, 5.
 .la casa de las infantas.
 .jardin de la isla.
 .mitologia.
 .sou água.
 .fuente del espinario.
 .pause ["].
 .camafeu.
.um arco-íris: porque beleza pouca é bobagem.

alguém já disse [e eu concordo plenamente!] que viajar é perceber as infinitas possibilidades da vida. de fato, enquanto uns desfilavam nas escolas de samba do rio, corriam atrás dos trios em salvador, levavam maizena na cara em aracati ou escutavam michel teló troando no porta-malas de um chevette 92 em beberibe, eu escutava o concierto de aranjuez tocado numa guitarra flamenca imaginária, EM ARANJUEZ. a vida tem mesmo infinitas possibilidades!
a música [a preferida da minha mãe!] sempre me fez desejar conhecer aranjuez, essa cidade de nome forte e doce ao mesmo tempo. entretanto, como todas as coisas têm um tempo bajo el cielo, somente hoje, precisamente um domingo de carnaval, me foi permitido confirmar tudo aquilo que minha mente soberbamente imaginosa já havia 'visto', inspirada pela música e pela sensibilidade sem-fim de joaquín rodrigo [que era cego e não podia ver aranjuez].
aranjuez está aqui pertinho de madrid [uns 30 minutos de carro] e nasceu às margens do rios tejo e jarama e em torno do palácio real mandado contruir por felipe II, em 1561. o arquiteto responsável, juan bautista de toledo, o mesmo do el escorial, morreu poucos anos após o começo da obra, em 1567, e assim o palácio levou muitos anos para ser concluído. os reinados de felipe V e felipe VI foram fundamentais para a continuidade da obra, que ficou pronta apenas no reinado de carlos III. o palácio, desde então residência de veraneio dos reis da espanha, está rodeado de imensos jardins, onde abundam fontes com estátuas mitológicas, altíssimas árvores milenares, intermináveis corredores de arcos, lindíssimos bancos ornados com elementos reais e tudo o mais que a realeza tem direito. aranjuez é, assim, bem-dizer uma versailles espanhola.
sorte nossa que o mundo tenha mudado o suficiente como que para fazer com que aranjuez esteja, hoje, cheia de plebeus, que levam seus cachorros plebeus e suas crianças plebéias para aproveitar o sol de um dia de inverno fora de madrid. o concierto de aranjuez ganhou, para mim, uma notinha a mais: aquela que costuma musicar os bons domingos. feliz carnaval para todos nós, cariños!


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

.1 km e 1/2.

 .as sombras das 16h na calle ponzano.
 .ahorra más: meu supermercado de sempre.
 .há flores [e gérberas!] no meu caminho.
 .cervecería el doble: cerrada por la siesta.
 .alonso cano.
.la taberna de los madriles.
 .o prédio rojo que me gusta [sobre a taberna de los madriles].
 .la iglesia.
 .banquinhos do caminho.
 .os bonitos edifícios da calle josé abascal.
 .a fachada do nh abascal - me encanta!.
 .olha a cobertura!.
 .a vitrine viva da roca.
 .la ruta de los 'gregorianos'.
 .comunidad de madrid.
 .o prédio branco da frente da minha sala de aula.
 .são miguel SEMPRE no meu caminho.
.o jardim do instituto.

.1 km e 1/2 diário, de casa para o curso: o vento gelado no rosto e a cabeça pensando em mil e uma coisas.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

domingo, 12 de fevereiro de 2012

.de mayrit a madrid.

 .jardines del campo del moro - palacio real [onde ficava o alcázar].
 .sossego.
 .puente de segovia [1564] sobre el río manzanares.
 .ruínas da  muralha islâmica: onde nasceu mayrit.
.la catedral de la almudena e o jogo dos 7 erros na pose da coleção.

a visão do palácio real desde a entrada dos jardines del campo del moro é de tirar o folêgo: um larguíssimo paseo verde que sobe rumo à fachada ocidental do palácio, branquíssimo e imponente, contrastante com o céu impecavelmente azul de madrid [mesmo nos dias de inverno]. a entrada principal do palácio, pela plaza do oriente [do outro lado], leva o turista mais desavisado a imaginar que os jardins do palácio se resumem aos jardines de sabatini - ledo engano! esse mesmo turista, ao entrar no palácio, avista, lá de cima, um imenso e 'inacessível' jardim através dos grandes arcos da praça central e quase sempre vai embora de madrid imaginando como e se é possível chegar até lá. revelo agora o segredo: tome o metro e vá até a estação príncipe pío [linha 10 ou 6]. saia pelo paseo de la florida e atravesse a rotonda [existe essa palavra em português?] à sua esquerda. simples assim!
hoje faz 3 meses que cheguei aqui. o doutorado me trouxe de volta para onde eu sempre soube que voltaria. como vivo com uma ampulheta imaginária que vai contando mais meus dias a menos que meus dias a mais, ontem acordei com aquela incômoda sensação de dívida e aproveitei os 7º que fazia lá fora [a temperatura mais alta da última semana!] para visitar os jardins e suas imediações [o paseo de la virgen del puerto e a puente de segovia].
o palácio real foi construído numa colina do río manzanares, que corta madrid - sobre as ruínas do antigo alcázar [a história da espanha é essa: cristãos tomam o que era dos árabes, destroem suas construções e constroem sobre elas seus correspondentes: palácios sobre alcázares, catedrais sobre mezquitas e assim vai!]. os jardines del campo del moro ficam exatamente na encosta desta pequena colina, que liga a face ocidental do palácio ao rio, e ganharam esse nome porque, antes de existirem o palácio e os jardins, esse foi o local onde supostamente os árabes montaram acampamento em 1109, durante a tentativa de retomada da cidade, já dominada pelos cristãos [moros = mouros, no português].  
apesar de já ter vivido aqui e de ter visitado a cidade algumas vezes entre 94/95 e 2011/2012, eu vergonhosamente fazia parte da turma dos 'turistas desavisados' e jamais havia pisado no campo del moro. antes tarde...!
para quem vem a madrid e vai visitar o palácio recomendo um roteiro alternativo e bem mais completo que o tradicional: desça no metro príncipe pío, veja a face oeste do palácio e dê uma volta circular pelos jardines. saia pelo mesmo portão da entrada, atravesse a avenida e caminhe pelo bonito paseo de la virgen del puerto, às margens do manzanares, até a puente de segovia. depois, pegue a esquerda e suba toda a colina por dentro, orientando-se pela enorme cúpula azul da catedral de la almudena. [dá uma bela caminhada colina acima, mas não faltam bancos pelo caminho, para os menos em forma.]
ali do lado, veja os restos da muralha islâmica [mayrit], onde nasceu madrid no século IX [a muralha é simplesmente ignorada nos roteiros turísticos tradicionais - um absurdo!]. naquele então, madrid se chamava mayrit [terra rica em água] e se resumia à fortaleza árabe construída pelo califado de córdoba para vigiar a navegação do manzanares, lá em baixo, até toledo. quando os cristãos tomaram toledo, tomaram também no caminho a fortaleza e o alcázar de mayrit, construído exatamente onde hoje está o palácio. mayrit ganhou, então, uma tradução cristã e passou a chamar-se magerit.
o alcázar, tal como construído pelos árabes, foi usado como residência real até ser destruído por um incêndio que durou três dias, no final de 1734. em abril de 1738 a primeira pedra da construção do atual palácio foi colocada e trouxe junto a bonita catedral de la almudena, que compõe o 'complexo do palácio'. a catedral foi construída no encontro da calle de bailén com a calle mayor, bem no ponto onde estava a antiga mesquita [palácio sobre alcázar, catedral sobre mezquita!]. magerit evoluiu para madrid e cá estamos nós! de mayrit a madrid em uma tarde.  

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

#valenciafeelings

 .valencia de santiago calatrava.
 .ciudad de las artes y las ciencias.
 .jardín de la astronomía.
 .la marina e o circuito de rua do grande prêmio da europa de F1.
 .#F1feelings.
 .oceanogràfic: encantamento.
.a lua, o oceanogràfic, a beluga e eu.

o sábado amanheceu com os termômetros marcando 8º negativos. da medieval cuenca para a pós-moderna valencia de santiago calatrava, desci 1000 metros de altitude e esquentei 21º em apenas e tão somente 1 hora de trem. já havia visitado valencia, precisamente em 19 de março de 1995, um domingo, último dia das fallas - a festa mais tradicional da cidade, mundialmente famosa. era a primeira vez que eu via o mediterrâneo e lembro com nitidez do meu encantamento e da estranheza com que vi as pessoas e a mim mesma de roupa na praia. lembro também do vento, das torres de serrano na porta da cidade velha e das crianças vestidas a caráter morrendo de chorar no balcão do ayuntamiento quando a falla vencedora virou uma imensa fogueira [a festa, que acontece todos os anos entre os dias 15 e 19 de março, é um concurso de imensas esculturas de papel maché que são queimadas no último dia]. o complexo da ciudad de las artes y las ciencias, projetado por calatrava, ainda não existia e o grande prêmio da europa ainda era em nurburgring.
dessa vez, como a finalidade da viagem praticamente era conhecer essa parte nova da cidade e visitar o oceanogràfic [o maior oceanário da europa], hospedei-me do lado, no rooms deluxe da avenida instituto obrero.
a ciudad de las artes y las ciencias impressiona pela grandiosidade, pelas mil e uma formas como o espaço criativamente se adapta aos eventos sediados na cidade e pela assimetria branca e quase exagerada de calatrava, filho ilustre de valencia. atravessei a enorme ponte estaiada e caminhei uns 15 minutos até a marina real, onde fica o bonito circuito de rua de F1, atual grande prêmio da europa, pé quente para o brasil e pódio de vitórias de massa e barrichello. fiz o circuito inteiro a pé e voltei para o hotel morta com farofa, com um saldo total de pouco mais de 8km de bate-perna.
no domingo acordei tarde [faço turismo, e não gincana!], almocei no 100 montaditos [amo!] do el saler, ali do lado, e fui para o oceanogràfic. o ingresso não é barato [25 euros], mas vale cada centavo, especialmente para quem se encanta com o mar como eu e não pode mergulhar porque tem problema de ouvido e não aguenta nem a pressão do fundo de piscina inflável de criança. o espaço está dividido por oceanos e emociona mesmo quem já visitou o oceanário de lisboa [que também é incrível]. os enormes aquários e túneis contínuos [nos quais nadam inclusive as espécies mais assustadoras de tubarões] simulam com  sucesso um mergulho no fundo do mar e nos fazem indagar que espécie de vidro é aquele capaz de sustentar tantos milhões de litros de água salgada. a suavíssima trilha sonora e a luz regulada na intensidade exata me afinaram o espírito e me fizeram sentar num cantinho e derramar lágrimas discretas, diante de tamanha boniteza. fiquei ali, no chão, no escurinho, sentindo uma paz absoluta e tomando consciência da minha infinita pequenez. saí de lá uma pessoa melhor.
na segunda, passei o dia perambulando pela parte histórica da cidade até pegar meu AVE de volta para madrid no comecinho da noite. o centro pareceu-me bastante mal cuidado e destoante de uma valencia tão bem preparada para o turismo. percebi um quê de crise que nem remotamente se sente em madrid. de qualquer maneira, fiz umas fotos bem bonitas que infelizmente não poderei dividir com vocês porque meu memory card fez o favor de espatifar sozinho quando o tirei da máquina. nem esquentei: vai-se o cartão, fica a memória [que, no meu caso, é de elefante!].

#cuencafeelings

 .a moderníssima estação fernando zóbel, exclusiva para el AVE, e cuenca bajo mis pies.
 .las increíbles casas colgadas: cartão postal da cidade.
 .'la antigua'.
 .puente de san pablo: #quintanafeelings.
 .a catedral cristã construída sobre as ruínas da antiga mesquita e outras cenas de cuenca.
 .federico muelas: o drummond de cuenca.
 .sobe & desce.
 .os olhos verdes que nos miran en el mirador de camilo josé cela.
 .casitas de cuenca.
.omni amortalium.

'caminando cuenca al viajero le brotan de súbito alas en el alma...': assim descreveu  o escritor camilo josé cela o sentimento de caminhar pelas ruelas medievais dessa cidadezinha encantada inscrustada no coração de castilla la mancha. a parte mais alta de cuenca, no topo do seu casco antiguo, está a 1000 metros do nível do mar. a caminhada até lá em cima vai nos tornando etéreos, como se fôssemos desmaterializando-nos a cada passo.  
cuenca surgiu no roteiro como parada a meio caminho de valencia. tinha planos de ir ao reino unido, ao marrocos ou ao leste europeu nesta que foi a minha última semana inteira sem aulas até o final da parte presencial do doutorado, tirando a semana santa, mas ocorre que estou presa na espanha - o que, convenhamos, não é assim uma tragédia. [explico: estou em processo de tramitação do NIE, que é a identidade de estudante estrangeiro, e até que me chamem na extranjería e me dêem uma autorização de regresso, posso ter problemas ao entrar no país na volta de uma viagem internacional, especialmente para fora do espaço shengen].
depois que comprei as passagens de trem e reservei os hotéis, sem cancelamento gratuito, um corredor de vento resolveu se abrir trazendo da sibéria uma onda de frio como só se tinha visto por aqui em 1951. o resultado é que as temperaturas que estavam oscilando numa média de 10º [um dos invernos mais quentes dos últimos muitos anos!], caíram vertiginosamente para uma média de 0º, com sensação térmica muito abaixo da marcada nos termômetros. 
o prognóstico para cuenca não era dos mais animadores: máxima de 0º e mínima de -9º. e lá fui eu para a cidade mais fria da espanha no dia mais frio do ano! saí de madrid na friíssima manhã da última sexta-feira num AVE [salve a renfe!] que fez o trecho puerta de atocha - fernando zóbel em incríveis 50 minutos. no caminho, a bonita paisagem ocre-oliva de castilla la mancha, terra de dom quixote. cheguei numa cuenca absurdamente gelada, lambida por um vento siberiano capaz de congelar sobral inteira em menos de um segundo. 
a cidade - já disse - é encantadora, mágica, especial. mais uma das áridas cidades de pedra, cheias de altos e baixos, tão características da espanha, mas com um toque personalíssimo, que a faz diferente, singular. as casas colgadas [penduradas/suspensas, em português] estão ali sobre aquelas pedras há mais de setecentos anos e os rios [muito mais antigos!] júcar e huécar, que circulam a cidade, já viram muita água rolar entre a invasão muçulmana e a tomada cristã da cidade pelo rei alfonso VIII [a história da espanha é sempre essa da vitória cristã sobre séculos de dominação árabe-muçulmana!].
passei o dia ali, rodeada de beleza e de história, sob um céu impecavelmente azul e sobre um chão de pedras milenares. o vento siberiano enlinhando meu cabelo e congelando meus dedos debaixo das luvas de couro sem dó nem piedade, e eu sendo feliz, apesar de. próxima estación: valencia.