quinta-feira, 17 de novembro de 2011

.meditaciones del metro.

eu poderia escrever sobre o retiro, que é o lugar que mais adoro entre todos os lugares que adoro nessa cidade. poderia escrever sobre o prado e suas meninas de velázquez. poderia escrever sobre as majas, vestida e desnuda, de goya. sobre as mãos de el greco. ou sobre o guernica, de picasso, no reina sofía. eu poderia escrever sobre o duelo entre rubalcaba e rajoy nas eleições gerais espanholas, que terão lugar domingo agora, dia 20. poderia escrever sobre o palácio real ou sobre o templo de debod. sobre a fuente de cibeles, sobre a família real, sobre o real madrid, sobre as touradas, sobre o flamenco. eu poderia escrever sobre a plaza mayor, sobre a puerta del sol ou sobre o mercado de san miguel. poderia escrever sobre o vinho, sobre as tapas, sobre os chocolates con churros, sobre a paella. eu poderia escrever sobre as calçadas largas e grifadas da calle serrano, sobre o estiloso bairro de salamanca e sobre o colossal el corte inglés. poderia escrever um post inteiro sobre o céu de madrid. poderia escrever sobre todos esses lugares e coisas [e certamente escreverei!], mas quis dedicar esse primeiro post, propriamente dito, ao metro - que aqui se escreve e se lê assim mesmo, sem acento, como se estivéssemos falando da unidade de medida correspondente a 100 centímetros. 
o metro madrileño tem 300 estações, distribuídas em 12 linhas coloridas. são 293 kilômetros, pelos quais se deslocam 2,5 milhões de pessoas, metade de madrid, por dia. quando morei aqui da primeira vez, há 17 anos atrás, o metro já cobria a cidade inteira e estavam terminando de construir a linha 6, cinza, que é uma linha circular. de lá para cá, o número de linhas dobrou e se pode chegar até aos lugares mais improváveis da cidade.
gosto do metro. de viver em cidades servidas de metro. de observar as pessoas. de ceder meu lugar às mais velhas, às grávidas e àquelas que transitam com crianças. de andar do lado direito das escadas rolantes. gosto do sentimento de poluir menos ao utilizar um transporte público. de dirigir um carro a menos no mundo. gosto dos músicos do metro, aos quais invariavelmente tenho a tentação de dar todos os euros que levo na carteira, e mais meus cartões de crédito e débito, com as respectivas senhas [desde que cheguei, cruzei já duas vezes com uma dupla que canta beatles na estação tribunal e que poderia estar no the x factor USA]. gosto da miscelânea, da experiência sociológica, da atmosfera democrática e cosmopolita, das lições de vida diárias que os mais atentos não desperdiçam. esses dias, voltava cansada e reclamante da minha odisséia no ikea quando entrou um moço, bastante jovem, absolutamente queimado, sem nariz e sem orelhas, numa situação lastimável como eu jamais havia visto antes. parei de reclamar na hora e senti-me a mais abençoada e ingrata das criaturas.
é certo que não é necessário viver em madrid para estar atenta às pessoas e aprender com elas, mas considero o metro um laboratório importante, um cenário rico e convidativo. queria compartilhar isso com vocês, cariños. e por hoje é só.

5 comentários:

  1. O prazer andar de tranporte coletivo, metro principalmente, é o melhor...No Rio uma vez vi o mesmo que vc,um moço queimado...Andar em meio as pessoas e não somente dentro do carro nos traz reflexões...Mai uma experiência em Madrid...rs

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  2. Lindas fotos!!! Quero muito estar aí....Saudades.

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  3. tão bom estar em movimento e sequer prestar atenção na estrada, mas sim no seu 'ao redor'...

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  4. é sempre um prazer te ler, tri... viajei aqui nesse metro madrileño...

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  5. Can,
    Não se preocupe, qnd você voltar o metrÔ de Fortaleza estará maior do que o de Madri....rsrsr
    Cleber Nascimento

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